quinta-feira, 26 de abril de 2018

Ensinar a Ensinar Amélia Domingues de Castro


Um texto que parece inicialmente complexo, mais porque perpassa por viés da História da Educação, da psicologia, filosofia entre outros, e se fundamenta em um universo de conceitos que temos atualmente sobre a Educação que devem servir de bases para uma melhor compreensão. Conceitos imbricados que não se delimitam mais se complementam no universo humano que possui definições tão dinâmicas quanto a própria evolução social.

·         Percorrendo a História da Educação desde a Grécia, a Europa Medieval, o Renascimento, a iniciação científica do início da Idade Moderna, o Iluminismo e o Humanismo, numa evolução onde não se encontra uma sucessão linear das concepções sobre o ensino, apesar de constarem como acontecimentos cronológicos, considerando as variações significativas, oscilações e modulações diversas no modo de ensinar que variam com os contextos, mais são percebidos certas constâncias com diferentes facetas como: o ensino concebido de fora para dentro (dar aula); o ensino concebido de dentro para fora (a maiêutica de Platão), essas duas posições extremas trazem contrastes além de ideias intermediárias conforme as visões filosóficas, psicológicas, sociológicas ou antropológicas.

·         A origem da Didática é desconhecida historicamente, o que é mais conveniente que se observe ao longo da história é como esta vem se desenvolvendo e como se encontra no seu estágio atual. Segundo Piaget: “a natureza de uma realidade viva não é revelada nem por seus estágios iniciais nem por seus estágios finais, mas pelo próprio processo de suas transformações”. A epistemologia interacionista e construtivista de Jean Piaget trás uma terceira via do ensino através da construção simultânea dos objetos de conhecimento e das estruturas cognitivas e coordenações internas.

·         Podemos perceber e relacionar as influências destas variações de ensino nas civilizações ocidentais com a pedagogia da escola tradicional. Na Escola Nova com Rousseau volta o olhar para o aluno e suas necessidades e, verificam-se as conotações natural e artificial em relação ao ensino e hoje, acrescenta-se ao naturalismo uma atitude consciente diante das relações homem-natureza com a incorporação do artificial.
·         Percebemos o naturalismo compactuando com o inatismo e o artificialismo com o empirismo e o conhecimento do desenvolvimento psicológico com a psicologia de Piaget, essas três facetas constituem fundamentos epistemológico adotados até hoje nos estudos da Educação.

·         Aspectos importantes no conceito de ensino que devem ser considerados são os anseios da sociedade que se torna molde para a formação do indivíduo ou para torná-lo apto a exercer livremente o papel de sua escolha, construído a partir de informações amplas e honestas e reflexivas que lhe permitiram avaliar e assimilar mediante uma “democracia pedagógica” para conciliar o indivíduo e a sociedade com responsabilidade moral e social que são essências da cidadania.

·         Para que haja o processo de ensino, deve haver a comunicação que pode ser feita através das palavras, gestos, imitações. Ultimamente essa comunicação vem se efetivando com as tecnologias: rádio, televisão, informática e todos os diversos tipos de mensagens que possibilitam a ampliação do intercâmbio social. Assim, os meios como se ensina mudam e devem obviamente evoluir como os processos de comunicação. A base da Didática é a questão pedagógica, e quando dela separada torna-se uma tecnologia, perde-se em considerações quantitativas, em normas e regras desligadas de sua justificação e fica ao sabor de objetivos estranhos aos fins da Educação, sua razão de existir.

·         O que caracteriza o ensinar é basicamente a sua intencionalidade que objetiva ajudar aos outros a aprenderem, não correspondendo a uma certeza, mas a um esforço com uso dos  chamados procedimentos didáticos, visando a melhor aproximação entre o ensinar e o aprender.

·         A Didática é a ciência do ensino e se caracteriza por um corpo de conhecimentos sobre o processo de ensino de modo a garantir a melhor eficiência, e que, graças ao aprendido, se torne diferente, melhor, mais capaz, mais sábio, além de proporcionar o aperfeiçoamento pela assimilação consciente e que seja fator de seu desenvolvimento moral, intelectual ou físico através dessa associação da intenção com a educação, a intenção educacional, considerando-se todas as variáveis no contexto em que é analisada.

·         A Didática se baseia no conceito do ensino, um desafio que busca instigar, provocar e incentivar. Esse objetivo se confronta diretamente com a realidade das classes a serem ensinadas, seu mundo, sua sociedade e seus conceitos e qual a Educação que se intenciona para esta classe.

·         Ensinar é um fato que pode ser pesquisado, interrogado e avaliado, apesar das muitas variáveis envolvidas neste processo, depende principalmente da intencionalidade ou objetivo que o conduz, levando-se em consideração o resultado das consequências para a vida social.

·         A relação entre o ensinar e o aprender pode ser fácil e produtiva ou difícil, parcial ou nula, e as condições do aluno quanto ao seu processo de aprender diante do ensino oferecido devem ser considerados dentro dessa relação, pois a maior parte dos fracassos é atribuída ao aluno.

·         Na Didática, o conteúdo aprendido corresponde aos currículos formados por diferentes ciências, artes, técnicas e atividades, fazendo com que a Didática se divida em Geral e Específica (que está ligada aos problemas específicos dos conteúdos), e nesse currículo a verdadeira intenção educacional se apresenta de maneira abstrata, promovendo ao aluno o aprender a viver e aprender a ser. Esse aprender a viver e aprender a ser pode proporcionar condições para viver em situação social, em modo solidário, cooperativo e gradualmente ser capaz de reconhecer os valores éticos, estéticos e intelectuais que pertencem à natureza, à cultura e que se manifestam no exercício da cidadania. Esses valores estão subjetivados nos currículos e nos processos de ensino, desconsiderar esses valores talvez seja a fonte das maiores dificuldades da educação atualmente.
·         A Didática não é social e politicamente neutra quando ensina ou não determinados conteúdos e incentiva, ou se recusa a incentivar, o processo de construção do conhecimento e aptidões intelectuais das crianças, adolescentes e adultos, desenvolvendo capacidade crítica e reflexiva.

·         Uma cidadania esclarecida exige a construção do senso de responsabilidade e solidariedade, mas está baseado no respeito ao aluno e sua capacidade de julgamento independente.

·         Um passo a considerável a frente da Didática foi distinguir as fases que se sucedem de modo cíclico: planejamento, execução e avaliação que vem sendo ampliada, por um processo de assimilação/apropriação de temas que não lhe pertencendo na origem vêm sendo considerados de relevante importância para seu duplo papel: explicar, compreender a realidade do ensino e orientá-la e, abrange a temática social dentro da classe, na escola e entre a escola e a comunidade, aproximando-se da linguagem, comunicação e pensamento, incorporando uma nova terminologia a partir da informática e ciências afins, com fronteiras imprecisas incorpora multiplicidades de teorias chama a seu campo tudo que interessa ao homem numa intrínseca interdisciplinaridade.

·         A Didática visa o campo do ensino como seu domínio especial, relacionado com todos os demais de uma área que abrange estudos históricos e filosóficos, políticos e psicológicos aplicados à Educação, as questões de organização e administração, de planejamento educacional e demais temas de interesse educacional.

·         A Pedagogia, como campo privilegiado de reflexões sobre a Educação, acolhe no seu campo considerações de ordens filosófica e social, procura apoio científico, mas também aceita os encargos da organização da prática da Educação e, como a Didática tem por um dos seus propósitos a orientação do ensino, consideremos ela a face prática da Pedagogia, apesar dela não se restringir às questões pragmáticas, pois, para orientar a ação, tem necessidade da busca à reflexão de caráter teórico e à pesquisa científica. Entretanto, encontramos em seu viés todos os conflitos e todos os avanços das ciências pedagógicas e compartilhando com elas de um destino comum.

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