quinta-feira, 26 de abril de 2018

Didática Geral - Alda Junqueira Marin


O texto aborda diversos aspectos da Didática Geral, uma área da pedagogia que trata da docência, do ensino e a prática dos docentes, tratando dos aspectos gerais de desempenho de qualquer professor.
Num primeiro exemplo, dois alunos comentam sobre a didática de seus respectivos professores, onde um primeiro afirma que o seu professor não tem didática alguma e o segundo elogia a didática de outro professor. O texto considera as duas afirmativas explicando que, a didática é composta de conhecimentos adquiridos, saberes adquiridos por diversos meios e, ao longo de todo o percurso do professor como estudante. O professor terá ou não didática dependendo do seu modo de ser, de se comportar em sala de aula nos momentos em que ensina. Quando se diz que tem didática é porque se reconhece que o professor sabe ensinar bem, de um modo que os alunos aprendem ou não, significando que o professor não tem conhecimentos suficientes para exercer bem a função, de modo que os alunos possam aprender. A Didática pode então fornecer esses conhecimentos.
Vendo um pouco na relação estreita entre a história da escola e a história da Didática na modernidade, por volta de 1500 a 1600, Hamilton (2001ª e 2001b) em suas pesquisas ligando livro-texto, disciplina e didática com modificações relacionadas à existência da imprensa e aparecimento dessas novas palavras e, juntamente ao aparecimento da instrução relacionada à aprendizagem e outros fatores, segundo ele, a palavra didática apareceu nessa época. Essa “virada instrucional” constitui um momento decisivo para a existência da escolarização moderna com características existentes até hoje, como didática é uma palavra bem antiga, até alunos que nunca estudaram o que aqui está descrito, sabem identificar o que é ter ou não didática, ou seja, esse “jeito de bem fazer se compreender as coisas de um modo agradável”.
Os textos com essa nova expressão surgem inicialmente com Elias Bodin (COMÊNIO, 1976), Ratke (2008) e, posteriormente, o próprio Comênio que leu esses textos e ficou conhecido como o “pai da Didática” e defendia que todas as pessoas fossem educadas, que por todos os lugares se construíssem escolas e, portanto, por todos os lugares se preparassem pessoas para ensinar e aprender com facilidade, solidez e rapidamente. Comenius organizou em seu livro conhecimentos das Didáticas Geral e Específica.
No século XVIII, por volta de 1762, Rousseau propunha a necessidade de estudar os alunos pra que melhor os conhecessem. Essas propostas tão antigas evoluem e no último século ganha força a pesquisa sobre a realidade escolar com destaque para os focos sobre a instrução, sobre o ensino e os modos de fazer o trabalho pedagógico, sobretudo em salas de aula, avança significativamente as investigações e estudos sobre a Didática.
A autora, através de trabalhos desenvolvidos em 1994 e publicados em 1996 e 2005, trás uma concepção de que “a Didática é área de conhecimento pedagógico que se dedica ao estudo, análise, divulgação e desempenho do trabalho docente”, possuindo três facetas ou feições que são:
1.    É o núcleo do trabalho docente, a parte fundamental desse trabalho, a atividade de ensinar e levar os alunos a aprenderem;
2.    Componente fundamental na formação de professores;
3.    É efetivamente investigadora, onde os professores podem buscar novas facetas do ensino, através dos livros, pesquisas, novos materiais didáticos e conhecimentos produzidos no chão da sala de aula.

As pesquisas relacionam a atividade prática com a realidade das escolas e sua organização, o ambiente social em que estão inseridas e entendendo as estreitas relações que possuem com as influências sociais, políticas, legais, econômicas, científicas, artísticas e a sua influência dialética com essas áreas externas à escola.
Os Pesquisadores analisam também a Pedagogia abordando sua dimensão epistemológica, na busca de novos conhecimentos com suas questões e procedimentos investigativos e práticas enquanto saberes para a ação pedagógica.
Os processos de ensino que seguem uma “tradição” terminam por ficar conhecidos como Didática Tradicional, porque acabam por seguirem os mesmos princípios dos tempos iniciais da escolarização, com processos de repetição e memorização e ordens dadas eram os comportamentos a serem realizados pelos alunos. Supunha-se que assim noções simplesmente eram impressas nos cérebros dos alunos sem que precisassem fazer outros esforços além do mencionado. Eram desconsideradas as diferenças e especificidades de cada aluno, como que, o que servisse pra um serviria a todos.
Com os avanços e evidentes mudanças no contexto social, surgem novos procedimentos didáticos com essa nova caracterização, o professor passou a ser concebido como orientador de aprendizagem do alunado e não mero transmissor das noções, alterando-se procedimentos como: estudos do meio social por visitações, incentivo e orientações para adquirir conhecimentos e dar continuidade aos estudos individualmente, planejamentos realizados por alunos e professores para organizarem ações objetivando ideias e soluções para problemas e procedimentos que permitem aos alunos trabalharem de acordo com suas condições e ritmos através de fichas didáticas.
A partir da década de 1960, o Brasil além de outros países ampliam as ofertas de escolas para a população e consequentemente surgem novos problemas como a evasão e a repetência de modo acentuado.
Mais ou menos na década de 1970 começa-se a observar que não bastava que a Didática tivesse boas técnicas e precisava estabelecer relações com outras áreas do conhecimento para auxiliar a suprir novas necessidades. Surge um movimento que apontava o tecnicismo da Didática a partir de várias análises realizadas sobre o ensino da Didática e passou-se a perceber que não bastava que o ensino sofresse mudanças, mas também o ensino da Didática nos cursos de formação de professores. Houve casos em universidades de eliminarem o título Didática, como se isso funcionasse e mudasse a forma de focalizar e realizar o ensino.
Com as pesquisas verificam-se as muitas relações que se estabelecem com o Ensino, professor e aluno e, percebe-se que todos estão intimamente relacionando-se com toda a sociedade, precisando que o professor desempenhe muitas ações para ensinar e tentar assegurar ao máximo a aprendizagem dos alunos.
Nessa nova conjuntura o professor precisa, além dos profundos conhecimentos específicos, cuidar das ações para a sua primordial função docente, precisa ensinar para que seus alunos aprendam e aprender com as diversas circunstâncias que passa, reconstruindo constantemente a sua Didática, levando em consideração a legislação vigente, a ideologia da escola e da sociedade, com a colaboração dos alunos, da própria família e suas próprias experiências.
Peculiaridades de cada professor, dentro de uma mesma Didática, a Didática Geral, apresentar traços diferentes para vencer dadas intenções, nos faz pensar que há recursos da arte no trabalho docente, existem ideias e arranjos pessoais nesses objetivos.
No texto percebem-se características tecnicistas, ao relatar que após as pessoas passagem anos de estudo e em cursos específicos, podem ser chamados aqui para a vida de alunos. Relatos de Araújo (2002), Oliveira (2002) e Monteiro (2002) de que crianças, desde muito cedo ao se tornarem alunos, verifica-se nas salas lugares ideais para sentar, preocupação com assepsia e ordem do ambiente, cumprimento dos horários rígidos levando à aprendizagem do tempo, inclusive para o uso do banheiro ou para apontar o lápis, contenção dos movimentos para não atrapalhar o trabalho, limpeza e boa apresentação dos cadernos, entre outras situações em que se desenvolve a obediência ao controle e vigilância exercidos preparando as crianças, desde cedo, para o mundo do trabalho (FERNÁNDEZ ENGUITA, 1989).
A cena três trazida no texto em que uma pesquisadora está na escola para uma pesquisa na área Didática buscando obter mais conhecimento sobre a visão dos alunos quanto à dificuldade que têm de entendimento sobre o que as professoras de 1ª a 4ª série falam em sala de aula. Investigam quais as reações dos professores e alunos e verifica-se que os alunos percebem que explicar é tarefa do professor e é parte da sua Didática e que, essas relações pedagógicas e sociais que não existiam anteriormente ao surgimento da escola moderna, são consideradas por alguns pesquisadores como a característica mais central da escolarização moderna (VINCENTE; LAHIRE; THIN, 2001), uma configuração vista como princípio fundamental para a compreensão da escola.
Essa função docente ligada aos saberes que precisam ser ensinados tanto em relação ao que ensinar quanto em relação ao modo de ensinar caracterizam uma pedagogização das relações sociais que passam a existir na escola.
Nos questionamentos existentes dos alunos em relação ao ensino dos professores diversos fatores são evidenciados e que, podem significantemente influenciar no aspecto de desenvolvimento cognitivo do aluno, à medida que seus questionamentos são atendidos, ignorados ou mal assistidos, passando ao aluno um aprendizado através de conclusões subjetivas quanto às suas perspectivas diante dos questionamentos. Bourdieu (2004) trás concepções que nos permitem comentar episódios como estes de dúvidas e questionamentos dos alunos, quando nos leva a pensar que nos sistemas de ensino carregam com eles, poderosamente, sistemas de pensamentos, de percepção e ação no mundo, ou seja, não são somente os conhecimentos que as escolas propiciam, mas muito mais do que isso.
Pesquisadores na França e depois no Brasil e outros países, desde 1987 desenvolveram estudos que nos permitem entender que a relação com o saber é basicamente uma relação com o mundo, desde o nascimento para a sobrevivência. Essas múltiplas relações estabelecidas com pessoas, objetos, a linguagem e o tempo são conhecimentos organizados que se desenvolveram historicamente no mundo e estão disponíveis para serem ensinados e aprendidos. Uma marca fundamental da função docente é o desejo de saber para que cada um aprenda  e tudo que se estuda no curso de formação docente e deverá ser estudado por toda a vida tem implicações e relações com a vida da sala de aula.
A Didática é a área composta por conhecimentos que se referem ao saber fazer do professor. É a área mais antiga do campo pedagógico, surgindo especificamente voltada par o ensino com conhecimentos voltados às salas de aula e dos professores futuros que se preparam. É a área que permite ao professor acompanhar seus alunos e a si mesmo para ver os resultados de tudo o que vem pensando, fazendo e analisando por meio de avaliações e num movimento dialético constante.



Nenhum comentário:

Postar um comentário