quinta-feira, 26 de abril de 2018

A alienação social

De Marilena Chauí - Convite a Filosofia

Às três feridas narcísicas mencionadas por Freud, precisamos acrescentar mais uma: a que nos foi infligida por Marx com a noção de ideologia. Para compreendê-la, precisamos primeiro compreender o fenômeno da alienação social.
Marx era filósofo, advogado e historiador, e interessou-se por um estudo feito por um outro filósofo, Feuerbach. Este investigara o modo como se formam as religiões, isto é, o modo como os seres humanos sentem necessidade de oferecer uma explicação para a origem e a finalidade do mundo.
Ao buscar essa explicação, os humanos projetam fora de si um ser superior dotado das qualidades que julgam as melhores: inteligência, vontade livre, bondade, justiça, beleza, mas as fazem existir nesse ser superior como superlativas, isto é, ele é onisciente e onipotente, sabe tudo, faz tudo, pode tudo.
Pouco a pouco, os humanos se esquecem de que foram os criadores desse ser e passam a acreditar no inverso, ou seja, que esse ser foi quem os criou e os governa. Passam a adorá-lo, prestar-lhe culto, temê-lo. Não se reconhecem nesse Outro que criaram. Em latim, “outro” se diz: alienus. Os homens se alienam e Feuerbach designou esse fato com o nome de alienação.
A alienação é o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam-se governar por ela como se ela tivesse poder em si e por si mesma, não se reconhecem na obra que criaram, fazendo-a um ser-outro, separado dos homens, superior a eles e com poder sobre eles.
Marx não se interessou apenas pela alienação religiosa, mas investigou sobretudo a alienação
social. Interessou-se em compreender as causas pelas quais os homens ignoram que são os criadores da sociedade, da política, da cultura e agentes da História. Interessou-se em compreender por que os humanos acreditam que a sociedade não foi instituída por eles, mas por vontade e obra dos deuses, da Natureza, da Razão, em vez de perceberem que são eles próprios que, em condições históricas determinadas, criam as instituições sociais – família, relações de produção e de trabalho, relações de troca, linguagem oral, linguagem escrita, escola, religião, artes, ciências, filosofia – e as instituições políticas – leis, direitos, deveres, tribunais, Estado, exército, impostos, prisões. A ação sociopolítica e histórica chama-se práxis e o desconhecimento de suas origens e de suas causas, alienação.
Por que os seres humanos não se reconhecem como sujeitos sociais, políticos, históricos, como agentes e criadores da realidade na qual vivem? Por que, além de não se perceberem como sujeitos e agentes, os humanos se submetem às condições sociais, políticas, culturais, como se elas tivessem vida própria, poder próprio, vontade própria e os governassem, em lugar de serem controladas e governadas por eles? Por que existe a alienação social? Por que os homens se deixam dominar pela sua própria obra ou criação histórica? Por que filósofos, teólogos, cientistas (portanto, o sujeito do conhecimento) elaboram teorias que reforçam a alienação? Por que filósofos dizem que a sociedade é produzida pela Natureza? Por que teólogos dizem que a família e o Estado existem por vontade de Deus? Por que os cientistas afirmam que a sociedade é racional e criada pela Razão Universal?
Para compreender o fenômeno da alienação, Marx estudou o modo como as sociedades são produzidas historicamente pela práxis dos seres humanos. Verificou que, historicamente, uma sociedade (pequena, grande, tribal, imperial, não importa) sempre começa por uma divisão e que essa divisão organiza todas as relações sociais que serão instituídas a seguir. Trata-se da divisão social do trabalho. Na luta pela sobrevivência, os seres humanos se agrupam para explorar os recursos da Natureza e dividem as tarefas: tarefas dos homens adultos, tarefas das mulheres adultas, tarefas dos homens jovens, tarefas das mulheres jovens, tarefas das crianças e dos idosos. A partir dessa divisão, organizam a primeira instituição social: a família, na qual o homem adulto, na qualidade de pai, torna-se chefe e domina a mulher adulta, sua esposa e mãe de seus filhos, os quais também são dominados pelo pai.
As famílias trabalham e trocam entre si os produtos do trabalho. Surge uma segunda instituição social: a troca, isto é, o comércio. Algumas famílias conquistam terras melhores do que outras e conseguem colheitas ou gado em maior quantidade que outras, trocando seus produtos por uma quantidade maior que a de outras. Ficam mais ricas. As muito pobres, não tendo conseguido produzir nada ou muito pouco, vêem-se obrigadas a trabalhar para as mais ricas em troca de produtos para a sobrevivência. Começa a surgir uma terceira instituição social: o trabalho servil, que desembocará na escravidão.
Os mais ricos e poderosos reúnem-se e decidem controlar o conjunto de famílias, distribuindo
entre si os poderes e excluindo algumas famílias de todo poder.
Começa a surgir uma quarta instituição social: o poder político, de onde virá o Estado. Nessa altura, os seres humanos já começaram a explicar a origem e a finalidade do mundo, já elaboraram mitos e ritos. As famílias ricas e poderosas dão a alguns de seus membros autoridade exclusiva para narrar mitos e celebrar ritos. Criam uma outra instituição social: a religião, dominada por sacerdotes saídos das famílias poderosas e que, por terem a autoridade para se relacionar com o sagrado, tornam-se temidos e venerados pelo restante da sociedade. São um novo poder social. Os vários grupos de famílias dirigentes disputam entre si terras, animais e servos e dão início a uma nova instituição social: a guerra, com a qual os vencidos se tornam escravos dos vencedores, e o poder econômico, social, militar, religioso e político se concentra ainda mais em poucas mãos. Como escreveu Maquiavel, toda sociedade é constituída pela divisão entre o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado. Com essa descrição, Marx observou que a sociedade nasce pela estruturação de um conjunto de divisões: divisão sexual do trabalho, divisão social do trabalho, divisão social das trocas, divisão social das riquezas, divisão social do poder econômico, divisão social do poder militar, divisão social do poder religioso e divisão social do poder político. Por que divisão? Porque em todas as instituições sociais (família, trabalho, comércio, guerra, religião, política) uma parte detém poder, riqueza, bens, armas, ideias e saberes, terras, trabalhadores, poder político, enquanto outra parte não possui nada disso, estando subjugada à outra, rica, poderosa e instruída.
Esse conjunto estruturado de divisões torna-se cada vez mais complexo, intrincado, numeroso, multiplicando-se em muitas outras divisões, sob a forma de numerosas instituições sociais e acabam por revelar a estrutura fundamental das sociedades como divisão social das classes sociais. A esse conjunto (tanto simples quanto complexo) de instituições nascidas da divisão social Marx deu o nome de condições materiais da vida social e política. Por que materiais? Porque se referem ao conjunto de práticas sociais pelas quais os homens garantem sua sobrevivência por meio do trabalho e da troca dos produtos do trabalho, e que constituem a economia.
A variação das condições materiais de uma sociedade constitui a História dessa sociedade e Marx as designou como modos de produção. A História é a mudança, passagem ou transformação de um modo de produção para outro. Tal mudança não se realiza por acaso nem por vontade livre dos seres humanos, mas acontece de acordo com condições econômicas, sociais e culturais já estabelecidas, que podem ser alteradas de uma maneira também determinada, graças à práxis humana diante de tais condições dadas.
O fato de que a mudança de uma sociedade ou a mudança histórica se faça em condições determinadas, levou Marx a afirmar que: “Os homens fazem a História, mas o fazem em condições determinadas ”, isto é, que não foram escolhidas por eles. Por isso também, ele disse: “Os homens fazem a História, mas não sabem que a fazem”.
Estamos, aqui, diante de uma situação coletiva muito parecida com a que encontramos no caso de nossa vida psíquica individual. Assim como julgamos que nossa consciência sabe tudo, pode tudo, faz o que pensa e quer, mas, na realidade, está determinada pelo inconsciente e ignora tal determinação, assim também, na existência social, os seres humanos julgam que sabem o que é a sociedade, dizendo que Deus ou a Natureza ou a Razão a criaram, instituíram a política e a História, e que os homens são seus instrumentos; ou, então, acreditam que fazem o que fazem e pensam o que pensam porque são indivíduos livres, autônomos e com poder para mudar o curso das coisas como e quando quiserem.
Por exemplo, quando alguém diz que uma pessoa é pobre porque quer, porque é preguiçosa, ou perdulária, ou ignorante, está imaginando que somos o que somos somente por nossa vontade, como se a organização e a estrutura da sociedade, da economia, da política não tivesse qualquer peso sobre nossas vidas. A mesma coisa acontece quando alguém diz ser pobre “pela vontade de Deus ” e não por causa das condições concretas em que vive. Ou quando faz uma afirmação racista, segundo a qual “a Natureza fez alguns superiores e outros inferiores”.
A alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade; no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações.
As três formas da alienação social
Podemos falar em três grandes formas de alienação existentes nas sociedades modernas ou capitalistas:
1. A alienação social, na qual os humanos não se reconhecem como produtores das instituições sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, divino ou racional, ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria vontade e inteligência, podem mais do que a realidade que os condiciona. Nos dois casos, a sociedade é o outro alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós.
2. A alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem como produtores, nem se
reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas sociedades modernas, a alienação econômica é dupla:
Em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos proprietários do capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos bancos, das escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc.). Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário. Entretanto, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que produzem coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados.
Em segundo lugar, os trabalhos produzem alimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos de consumo (pela indústria), instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização de outros trabalhos (transporte de matérias-primas, de produtos e de trabalhadores). A mercadoria-trabalhador produz mercadorias. Estas, ao deixarem as fazendas, as usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá foram colocadas (não pensamos no trabalho humano que nelas está cristalizado e não pensamos no trabalho humano realizado para que chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem um preço.
O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada do que está exposto no comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquanto indivíduo e sim como classe social, quem produziu tudo aquilo com seu trabalho e que não pode ter os produtos porque o preço deles é muito mais alto do que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário.
Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos outros as coisas que ele fabrica, ou, se comerciário, que ele vende, aceitando não possuí-las, como se isso fosse muito justo e natural. As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas (como a propaganda as mostra e oferece).
Na primeira forma de alienação econômica, o trabalhador está separado de seu trabalho – este é alguma coisa que tem um preço; é um outro alienus), que não o trabalhador.
Na segunda forma da alienação econômica, as mercadorias não permitem que o trabalhador  e reconheça nelas. Estão separadas dele, são exteriores a ele e podem mais do que ele. As mercadorias são igualmente um outro, que não o trabalhador.
3. A alienação intelectual, resultante da separação social entre trabalho material (que produz
mercadorias) e trabalho intelectual (que produz ideias). A divisão social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos.
Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:
Primeiro, esquecem ou ignoram que suas ideias estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a que pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao contrário, que são ideias universais, válidas para todos, em todos os tempos e lugares.
Segundo, esquecem ou ignoram que as ideias são produzidas por eles para explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais.
Terceiro, esquecem ou ignoram a origem social das ideias e seu próprio trabalho para criá-las;
acreditam que as ideias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem ou dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas às outras, são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas.
As ideias se tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro.
As três grandes formas da alienação (social, econômica e intelectual) são a causa do surgimento, da implantação e do fortalecimento da ideologia.

A ideologia

A alienação se exprime numa “teoria” do conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida.
Um exemplo desse senso comum aparece no caso da “explicação ” da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade – sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas -, que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a que pertencem e que é a classe dominante de uma sociedade. Essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as ideias de uma das classes sociais – a dominante e dirigente – tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda a sociedade.
A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos.
Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de “humanidade”, ou da ideia de “nação” e “pátria”, ou da ideia de “raça”, etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.
A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias.
Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas são inferiores aos das crianças que estão em escolas
particulares, pois o ensino não é de mesma qualidade em ambas; os negros e índios são discriminados como inferiores; os homossexuais são perseguidos como pervertidos, etc.
A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, pagar as dívidas e contribuir com os impostos já nos faz cidadãos, sem considerar as condições concretas que fazem alguns serem mais cidadãos do que outros. A função da ideologia é impedir-nos de pensar nessas coisas.

Os procedimentos da ideologia

Como procede a ideologia para obter esse fantástico resultado? Em primeiro lugar, opera por inversão, isto é, coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas últimas em efeitos. Ela opera como o inconsciente: este fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica ideias e falsas causalidades.
Por exemplo, o senso comum social afirma que a mulher é um ser frágil, sensitivo, intuitivo, feito para as doçuras do lar e da maternidade e que, por isso, foi destinada, por natureza, para a vida doméstica, o cuidado do marido e da família. Assim o “ser feminino” é colocado como causa da “função social feminina”.
Ora, historicamente, o que ocorreu foi exatamente o contrário: na divisão sexual-social do trabalho e na divisão dos poderes no interior da família, atribuiu-se à mulher um lugar levando-se em conta o lugar masculino; como este era o lugar do domínio, da autoridade e do poder, deu-se à mulher o lugar subordinado e auxiliar, a função complementar e, visto que o número de braços para o trabalho e para a guerra aumentava o poderio do chefe da família e chefe militar, a função reprodutora da mulher tornou-se imprescindível, trazendo como consequência sua designação prioritária para a maternidade.
Estabelecidas essas condições sociais, era preciso persuadir as mulheres de que seu lugar e sua
função não provinham do modo de organização social, mas da Natureza, e eram excelentes e desejáveis. Para isso, montou-se a ideologia do “ser feminino” e da “função feminina” como naturais e não como históricos e sociais. Como se observa, uma vez implantada uma ideologia, passamos a tomar os efeitos pelas causas.
A segunda maneira de operar da ideologia é a produção do imaginário social , através da imaginação reprodutora. Recolhendo as imagens diretas e imediatas da experiência social (isto é, do modo como vivemos as relações sociais), a ideologia as reproduz, mas transformando-as num conjunto coerente, lógico e sistemático de ideias que funcionam em dois registros: como representações da realidade (sistema explicativo ou teórico) e como normas e regras de conduta e comportamento (sistema prescritivo de normas e valores). Representações, normas e valores formam um tecido de imagens que explicam toda a realidade e prescrevem para toda a sociedade o que ela deve e como deve pensar, falar, sentir e agir. A ideologia assegura, a todos, modos de entender a realidade e de se comportar nela ou diante dela, eliminando dúvidas, ansiedades, angústias, admirações, ocultando as contradições da vida social, bem como as contradições entre esta e as ideias que supostamente a explicam e controlam.
Enfim, uma terceira maneira de operação da ideologia é o silêncio. Um imaginário social se  parece com uma frase onde nem tudo é dito, nem pode ser dito, porque, se tudo fosse dito, a frase perderia a coerência, tornar-se-ia incoerente e contraditória e ninguém acreditaria nela. A coerência e a unidade do imaginário social ou ideologia vêm, portanto, do que é silenciado (e, sob esse aspecto, a ideologia opera exatamente como o inconsciente descrito pela psicanálise).
Por exemplo, a ideologia afirma que o adultério é crime (tanto assim que homens que matam suas esposas e os amantes delas são considerados inocentes porque praticaram um ato em nome da honra), que a virgindade feminina é preciosa e que o homossexualismo é uma perversão e uma doença grave (tão grave que, para alguns, Deus resolveu punir os homossexuais enviando a peste, isto é, a AIDS).
O que está sendo silenciado pela ideologia? Por que, em nossa sociedade, o vínculo entre sexo e procriação é tão importante (coisa que não acontece em todas as sociedades, mas apenas em algumas, como a nossa)? Nossa sociedade exige a procriação legítima e legal – a que se realiza pelos laços do casamento -, porque ela garante, para a classe dominante, a transmissão do capital aos herdeiros. Assim sendo, o adultério e a perda da virgindade são perigosos para o capital e para a transmissão legal da riqueza; por isso, o adultério se torna crime e a virgindade é valorizada como virtude suprema das mulheres jovens.
Em nossa sociedade, a reprodução da força de trabalho se faz pelo aumento do número de trabalhadores e, portanto, a procriação é considerada fundamental para o aumento do capital que precisa da mão-de-obra. Por esse motivo, toda sexualidade que não se realizar com finalidade reprodutiva será considerada anormal, perversa e doentia, donde a condenação do homossexualismo. A ideologia, porém, perderia sua força e coerência se dissesse essas coisas e por isso as silencia.
Ideologia e inconsciente
Dissemos que a ideologia se assemelha ao inconsciente freudiano. Há, pelo menos, três semelhanças principais entre eles:
1. o fato de que adotamos crenças, opiniões, ideias sem saber de onde vieram, sem pensar em suas causas e motivos, sem avaliar se são ou não coerentes e verdadeiras;
2. ideologia e inconsciente operam através do imaginário (as representações e regras saídas da
experiência imediata) e do silêncio, realizando-se indiretamente perante a consciência. Falamos, agimos, pensamos, temos comportamentos e práticas que nos parecem perfeitamente naturais e racionais porque a sociedade os repete, os aceita, os incute em nós pela família, pela escola, pelos livros, pelos meios de comunicação, pelas relações de trabalho, pelas práticas políticas. Um véu de imagens estabelecidas interpõe-se entre nossa consciência e a realidade; 3. inconsciente e ideologia não são deliberações voluntárias. O inconsciente
precisa de imagens, substitutos, sonhos, lapsos, atos falhos, sintomas, sublimação para manifestar-se e, ao mesmo tempo, esconder-se da consciência.
A ideologia precisa das idéias-imagens, da inversão de causas e efeitos, do silêncio para manifestar os interesses da classe dominante e escondê-los como interesse de uma única classe social. A ideologia não é o resultado de uma vontade deliberada de uma classe social para enganar a sociedade, mas é o efeito necessário da existência social da exploração e dominação, é a interpretação imaginária da sociedade do ponto de vista de uma única classe social.

Erguendo o véu, tirando a máscara

Diante do poder do inconsciente e da ideologia poderíamos ser levados a “entregar os pontos”, dizendo: Para que tanto esforço na teoria do conhecimento, se, afinal, tudo é ilusão, véu e máscara? Para que compreender a atividade da consciência, se ela é a “pobre coitada”, espremida entre o id e o superego, esmagada entre a classe dominante e os ideólogos? Todavia, uma pergunta também é possível: Como, sendo a consciência tão frágil, o inconsciente e a ideologia tão poderosos, Freud e Marx chegaram a conhece-los, explicar seus modos de funcionamento e suas finalidades? No caso de Freud, foram a prática médica e a busca de uma técnica terapêutica para indivíduos que permitiram a descoberta do inconsciente e o trabalho teórico de onde nasceu a psicanálise.
No caso de Marx, foi a decisão de compreender a realidade a partir da prática política de uma
classe social (os trabalhadores) que permitiu a percepção dos mecanismos de dominação e exploração sociais, de onde surgiu a formulação teórica da ideologia.
A busca da cura dos sofrimentos psíquicos, em Freud, e a luta pela emancipação dos explorados, em Marx, criaram condições para uma tomada de consciência pela qual o sujeito do conhecimento pôde recomeçar a crítica das ilusões e dos preconceitos que iniciara desde a Grécia, mas, agora, como crítica de suas próprias ilusões e preconceitos.
Em lugar de invalidar a razão, a reflexão, o pensamento e a busca da verdade, as descobertas o
inconsciente e da ideologia fizeram o sujeito do conhecimento conhecer as condições – psíquicas, sociais, históricas – nas quais o conhecimento e o pensamento se realizam.
Como disseram os filósofos existencialistas acerca dessas descobertas:

Encarnaram o sujeito num corpo vivido real e numa história coletiva real, situaram o sujeito. Desvendando os obstáculos psíquicos e histórico sociais para o conhecimento, puseram em primeiro plano as relações entre pensar e agir, ou, como se costuma dizer, entre a teoria e a prática.



Marilena Chauí - Convite a Filosofia

Didática Geral - Alda Junqueira Marin


O texto aborda diversos aspectos da Didática Geral, uma área da pedagogia que trata da docência, do ensino e a prática dos docentes, tratando dos aspectos gerais de desempenho de qualquer professor.
Num primeiro exemplo, dois alunos comentam sobre a didática de seus respectivos professores, onde um primeiro afirma que o seu professor não tem didática alguma e o segundo elogia a didática de outro professor. O texto considera as duas afirmativas explicando que, a didática é composta de conhecimentos adquiridos, saberes adquiridos por diversos meios e, ao longo de todo o percurso do professor como estudante. O professor terá ou não didática dependendo do seu modo de ser, de se comportar em sala de aula nos momentos em que ensina. Quando se diz que tem didática é porque se reconhece que o professor sabe ensinar bem, de um modo que os alunos aprendem ou não, significando que o professor não tem conhecimentos suficientes para exercer bem a função, de modo que os alunos possam aprender. A Didática pode então fornecer esses conhecimentos.
Vendo um pouco na relação estreita entre a história da escola e a história da Didática na modernidade, por volta de 1500 a 1600, Hamilton (2001ª e 2001b) em suas pesquisas ligando livro-texto, disciplina e didática com modificações relacionadas à existência da imprensa e aparecimento dessas novas palavras e, juntamente ao aparecimento da instrução relacionada à aprendizagem e outros fatores, segundo ele, a palavra didática apareceu nessa época. Essa “virada instrucional” constitui um momento decisivo para a existência da escolarização moderna com características existentes até hoje, como didática é uma palavra bem antiga, até alunos que nunca estudaram o que aqui está descrito, sabem identificar o que é ter ou não didática, ou seja, esse “jeito de bem fazer se compreender as coisas de um modo agradável”.
Os textos com essa nova expressão surgem inicialmente com Elias Bodin (COMÊNIO, 1976), Ratke (2008) e, posteriormente, o próprio Comênio que leu esses textos e ficou conhecido como o “pai da Didática” e defendia que todas as pessoas fossem educadas, que por todos os lugares se construíssem escolas e, portanto, por todos os lugares se preparassem pessoas para ensinar e aprender com facilidade, solidez e rapidamente. Comenius organizou em seu livro conhecimentos das Didáticas Geral e Específica.
No século XVIII, por volta de 1762, Rousseau propunha a necessidade de estudar os alunos pra que melhor os conhecessem. Essas propostas tão antigas evoluem e no último século ganha força a pesquisa sobre a realidade escolar com destaque para os focos sobre a instrução, sobre o ensino e os modos de fazer o trabalho pedagógico, sobretudo em salas de aula, avança significativamente as investigações e estudos sobre a Didática.
A autora, através de trabalhos desenvolvidos em 1994 e publicados em 1996 e 2005, trás uma concepção de que “a Didática é área de conhecimento pedagógico que se dedica ao estudo, análise, divulgação e desempenho do trabalho docente”, possuindo três facetas ou feições que são:
1.    É o núcleo do trabalho docente, a parte fundamental desse trabalho, a atividade de ensinar e levar os alunos a aprenderem;
2.    Componente fundamental na formação de professores;
3.    É efetivamente investigadora, onde os professores podem buscar novas facetas do ensino, através dos livros, pesquisas, novos materiais didáticos e conhecimentos produzidos no chão da sala de aula.

As pesquisas relacionam a atividade prática com a realidade das escolas e sua organização, o ambiente social em que estão inseridas e entendendo as estreitas relações que possuem com as influências sociais, políticas, legais, econômicas, científicas, artísticas e a sua influência dialética com essas áreas externas à escola.
Os Pesquisadores analisam também a Pedagogia abordando sua dimensão epistemológica, na busca de novos conhecimentos com suas questões e procedimentos investigativos e práticas enquanto saberes para a ação pedagógica.
Os processos de ensino que seguem uma “tradição” terminam por ficar conhecidos como Didática Tradicional, porque acabam por seguirem os mesmos princípios dos tempos iniciais da escolarização, com processos de repetição e memorização e ordens dadas eram os comportamentos a serem realizados pelos alunos. Supunha-se que assim noções simplesmente eram impressas nos cérebros dos alunos sem que precisassem fazer outros esforços além do mencionado. Eram desconsideradas as diferenças e especificidades de cada aluno, como que, o que servisse pra um serviria a todos.
Com os avanços e evidentes mudanças no contexto social, surgem novos procedimentos didáticos com essa nova caracterização, o professor passou a ser concebido como orientador de aprendizagem do alunado e não mero transmissor das noções, alterando-se procedimentos como: estudos do meio social por visitações, incentivo e orientações para adquirir conhecimentos e dar continuidade aos estudos individualmente, planejamentos realizados por alunos e professores para organizarem ações objetivando ideias e soluções para problemas e procedimentos que permitem aos alunos trabalharem de acordo com suas condições e ritmos através de fichas didáticas.
A partir da década de 1960, o Brasil além de outros países ampliam as ofertas de escolas para a população e consequentemente surgem novos problemas como a evasão e a repetência de modo acentuado.
Mais ou menos na década de 1970 começa-se a observar que não bastava que a Didática tivesse boas técnicas e precisava estabelecer relações com outras áreas do conhecimento para auxiliar a suprir novas necessidades. Surge um movimento que apontava o tecnicismo da Didática a partir de várias análises realizadas sobre o ensino da Didática e passou-se a perceber que não bastava que o ensino sofresse mudanças, mas também o ensino da Didática nos cursos de formação de professores. Houve casos em universidades de eliminarem o título Didática, como se isso funcionasse e mudasse a forma de focalizar e realizar o ensino.
Com as pesquisas verificam-se as muitas relações que se estabelecem com o Ensino, professor e aluno e, percebe-se que todos estão intimamente relacionando-se com toda a sociedade, precisando que o professor desempenhe muitas ações para ensinar e tentar assegurar ao máximo a aprendizagem dos alunos.
Nessa nova conjuntura o professor precisa, além dos profundos conhecimentos específicos, cuidar das ações para a sua primordial função docente, precisa ensinar para que seus alunos aprendam e aprender com as diversas circunstâncias que passa, reconstruindo constantemente a sua Didática, levando em consideração a legislação vigente, a ideologia da escola e da sociedade, com a colaboração dos alunos, da própria família e suas próprias experiências.
Peculiaridades de cada professor, dentro de uma mesma Didática, a Didática Geral, apresentar traços diferentes para vencer dadas intenções, nos faz pensar que há recursos da arte no trabalho docente, existem ideias e arranjos pessoais nesses objetivos.
No texto percebem-se características tecnicistas, ao relatar que após as pessoas passagem anos de estudo e em cursos específicos, podem ser chamados aqui para a vida de alunos. Relatos de Araújo (2002), Oliveira (2002) e Monteiro (2002) de que crianças, desde muito cedo ao se tornarem alunos, verifica-se nas salas lugares ideais para sentar, preocupação com assepsia e ordem do ambiente, cumprimento dos horários rígidos levando à aprendizagem do tempo, inclusive para o uso do banheiro ou para apontar o lápis, contenção dos movimentos para não atrapalhar o trabalho, limpeza e boa apresentação dos cadernos, entre outras situações em que se desenvolve a obediência ao controle e vigilância exercidos preparando as crianças, desde cedo, para o mundo do trabalho (FERNÁNDEZ ENGUITA, 1989).
A cena três trazida no texto em que uma pesquisadora está na escola para uma pesquisa na área Didática buscando obter mais conhecimento sobre a visão dos alunos quanto à dificuldade que têm de entendimento sobre o que as professoras de 1ª a 4ª série falam em sala de aula. Investigam quais as reações dos professores e alunos e verifica-se que os alunos percebem que explicar é tarefa do professor e é parte da sua Didática e que, essas relações pedagógicas e sociais que não existiam anteriormente ao surgimento da escola moderna, são consideradas por alguns pesquisadores como a característica mais central da escolarização moderna (VINCENTE; LAHIRE; THIN, 2001), uma configuração vista como princípio fundamental para a compreensão da escola.
Essa função docente ligada aos saberes que precisam ser ensinados tanto em relação ao que ensinar quanto em relação ao modo de ensinar caracterizam uma pedagogização das relações sociais que passam a existir na escola.
Nos questionamentos existentes dos alunos em relação ao ensino dos professores diversos fatores são evidenciados e que, podem significantemente influenciar no aspecto de desenvolvimento cognitivo do aluno, à medida que seus questionamentos são atendidos, ignorados ou mal assistidos, passando ao aluno um aprendizado através de conclusões subjetivas quanto às suas perspectivas diante dos questionamentos. Bourdieu (2004) trás concepções que nos permitem comentar episódios como estes de dúvidas e questionamentos dos alunos, quando nos leva a pensar que nos sistemas de ensino carregam com eles, poderosamente, sistemas de pensamentos, de percepção e ação no mundo, ou seja, não são somente os conhecimentos que as escolas propiciam, mas muito mais do que isso.
Pesquisadores na França e depois no Brasil e outros países, desde 1987 desenvolveram estudos que nos permitem entender que a relação com o saber é basicamente uma relação com o mundo, desde o nascimento para a sobrevivência. Essas múltiplas relações estabelecidas com pessoas, objetos, a linguagem e o tempo são conhecimentos organizados que se desenvolveram historicamente no mundo e estão disponíveis para serem ensinados e aprendidos. Uma marca fundamental da função docente é o desejo de saber para que cada um aprenda  e tudo que se estuda no curso de formação docente e deverá ser estudado por toda a vida tem implicações e relações com a vida da sala de aula.
A Didática é a área composta por conhecimentos que se referem ao saber fazer do professor. É a área mais antiga do campo pedagógico, surgindo especificamente voltada par o ensino com conhecimentos voltados às salas de aula e dos professores futuros que se preparam. É a área que permite ao professor acompanhar seus alunos e a si mesmo para ver os resultados de tudo o que vem pensando, fazendo e analisando por meio de avaliações e num movimento dialético constante.



Ensinar a Ensinar Amélia Domingues de Castro


Um texto que parece inicialmente complexo, mais porque perpassa por viés da História da Educação, da psicologia, filosofia entre outros, e se fundamenta em um universo de conceitos que temos atualmente sobre a Educação que devem servir de bases para uma melhor compreensão. Conceitos imbricados que não se delimitam mais se complementam no universo humano que possui definições tão dinâmicas quanto a própria evolução social.

·         Percorrendo a História da Educação desde a Grécia, a Europa Medieval, o Renascimento, a iniciação científica do início da Idade Moderna, o Iluminismo e o Humanismo, numa evolução onde não se encontra uma sucessão linear das concepções sobre o ensino, apesar de constarem como acontecimentos cronológicos, considerando as variações significativas, oscilações e modulações diversas no modo de ensinar que variam com os contextos, mais são percebidos certas constâncias com diferentes facetas como: o ensino concebido de fora para dentro (dar aula); o ensino concebido de dentro para fora (a maiêutica de Platão), essas duas posições extremas trazem contrastes além de ideias intermediárias conforme as visões filosóficas, psicológicas, sociológicas ou antropológicas.

·         A origem da Didática é desconhecida historicamente, o que é mais conveniente que se observe ao longo da história é como esta vem se desenvolvendo e como se encontra no seu estágio atual. Segundo Piaget: “a natureza de uma realidade viva não é revelada nem por seus estágios iniciais nem por seus estágios finais, mas pelo próprio processo de suas transformações”. A epistemologia interacionista e construtivista de Jean Piaget trás uma terceira via do ensino através da construção simultânea dos objetos de conhecimento e das estruturas cognitivas e coordenações internas.

·         Podemos perceber e relacionar as influências destas variações de ensino nas civilizações ocidentais com a pedagogia da escola tradicional. Na Escola Nova com Rousseau volta o olhar para o aluno e suas necessidades e, verificam-se as conotações natural e artificial em relação ao ensino e hoje, acrescenta-se ao naturalismo uma atitude consciente diante das relações homem-natureza com a incorporação do artificial.
·         Percebemos o naturalismo compactuando com o inatismo e o artificialismo com o empirismo e o conhecimento do desenvolvimento psicológico com a psicologia de Piaget, essas três facetas constituem fundamentos epistemológico adotados até hoje nos estudos da Educação.

·         Aspectos importantes no conceito de ensino que devem ser considerados são os anseios da sociedade que se torna molde para a formação do indivíduo ou para torná-lo apto a exercer livremente o papel de sua escolha, construído a partir de informações amplas e honestas e reflexivas que lhe permitiram avaliar e assimilar mediante uma “democracia pedagógica” para conciliar o indivíduo e a sociedade com responsabilidade moral e social que são essências da cidadania.

·         Para que haja o processo de ensino, deve haver a comunicação que pode ser feita através das palavras, gestos, imitações. Ultimamente essa comunicação vem se efetivando com as tecnologias: rádio, televisão, informática e todos os diversos tipos de mensagens que possibilitam a ampliação do intercâmbio social. Assim, os meios como se ensina mudam e devem obviamente evoluir como os processos de comunicação. A base da Didática é a questão pedagógica, e quando dela separada torna-se uma tecnologia, perde-se em considerações quantitativas, em normas e regras desligadas de sua justificação e fica ao sabor de objetivos estranhos aos fins da Educação, sua razão de existir.

·         O que caracteriza o ensinar é basicamente a sua intencionalidade que objetiva ajudar aos outros a aprenderem, não correspondendo a uma certeza, mas a um esforço com uso dos  chamados procedimentos didáticos, visando a melhor aproximação entre o ensinar e o aprender.

·         A Didática é a ciência do ensino e se caracteriza por um corpo de conhecimentos sobre o processo de ensino de modo a garantir a melhor eficiência, e que, graças ao aprendido, se torne diferente, melhor, mais capaz, mais sábio, além de proporcionar o aperfeiçoamento pela assimilação consciente e que seja fator de seu desenvolvimento moral, intelectual ou físico através dessa associação da intenção com a educação, a intenção educacional, considerando-se todas as variáveis no contexto em que é analisada.

·         A Didática se baseia no conceito do ensino, um desafio que busca instigar, provocar e incentivar. Esse objetivo se confronta diretamente com a realidade das classes a serem ensinadas, seu mundo, sua sociedade e seus conceitos e qual a Educação que se intenciona para esta classe.

·         Ensinar é um fato que pode ser pesquisado, interrogado e avaliado, apesar das muitas variáveis envolvidas neste processo, depende principalmente da intencionalidade ou objetivo que o conduz, levando-se em consideração o resultado das consequências para a vida social.

·         A relação entre o ensinar e o aprender pode ser fácil e produtiva ou difícil, parcial ou nula, e as condições do aluno quanto ao seu processo de aprender diante do ensino oferecido devem ser considerados dentro dessa relação, pois a maior parte dos fracassos é atribuída ao aluno.

·         Na Didática, o conteúdo aprendido corresponde aos currículos formados por diferentes ciências, artes, técnicas e atividades, fazendo com que a Didática se divida em Geral e Específica (que está ligada aos problemas específicos dos conteúdos), e nesse currículo a verdadeira intenção educacional se apresenta de maneira abstrata, promovendo ao aluno o aprender a viver e aprender a ser. Esse aprender a viver e aprender a ser pode proporcionar condições para viver em situação social, em modo solidário, cooperativo e gradualmente ser capaz de reconhecer os valores éticos, estéticos e intelectuais que pertencem à natureza, à cultura e que se manifestam no exercício da cidadania. Esses valores estão subjetivados nos currículos e nos processos de ensino, desconsiderar esses valores talvez seja a fonte das maiores dificuldades da educação atualmente.
·         A Didática não é social e politicamente neutra quando ensina ou não determinados conteúdos e incentiva, ou se recusa a incentivar, o processo de construção do conhecimento e aptidões intelectuais das crianças, adolescentes e adultos, desenvolvendo capacidade crítica e reflexiva.

·         Uma cidadania esclarecida exige a construção do senso de responsabilidade e solidariedade, mas está baseado no respeito ao aluno e sua capacidade de julgamento independente.

·         Um passo a considerável a frente da Didática foi distinguir as fases que se sucedem de modo cíclico: planejamento, execução e avaliação que vem sendo ampliada, por um processo de assimilação/apropriação de temas que não lhe pertencendo na origem vêm sendo considerados de relevante importância para seu duplo papel: explicar, compreender a realidade do ensino e orientá-la e, abrange a temática social dentro da classe, na escola e entre a escola e a comunidade, aproximando-se da linguagem, comunicação e pensamento, incorporando uma nova terminologia a partir da informática e ciências afins, com fronteiras imprecisas incorpora multiplicidades de teorias chama a seu campo tudo que interessa ao homem numa intrínseca interdisciplinaridade.

·         A Didática visa o campo do ensino como seu domínio especial, relacionado com todos os demais de uma área que abrange estudos históricos e filosóficos, políticos e psicológicos aplicados à Educação, as questões de organização e administração, de planejamento educacional e demais temas de interesse educacional.

·         A Pedagogia, como campo privilegiado de reflexões sobre a Educação, acolhe no seu campo considerações de ordens filosófica e social, procura apoio científico, mas também aceita os encargos da organização da prática da Educação e, como a Didática tem por um dos seus propósitos a orientação do ensino, consideremos ela a face prática da Pedagogia, apesar dela não se restringir às questões pragmáticas, pois, para orientar a ação, tem necessidade da busca à reflexão de caráter teórico e à pesquisa científica. Entretanto, encontramos em seu viés todos os conflitos e todos os avanços das ciências pedagógicas e compartilhando com elas de um destino comum.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

A PEDAGOGIA - Clermont Gauthier e Maurice Tardif

Um texto que nos remete aos tempos iniciais da pedagogia, pelo menos nos moldes contemporâneos, trazendo explicações sobre os fatores que conduziram à emergência da pedagogia e nos proporciona também esclarecer os conceitos de educação, ensino, escola e pedagogia, conceitos complexos como é o viver e a evolução social.
Descreve os principais elementos que caracterizam a pedagogia como discurso e prática enquanto saberes para a ação pedagógica, enfatizando o nascimento e sua evolução desde o século XVII que nos ajuda a compreender, ao longo do nosso curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, como nascem as pedagogias ao longo da história, por meio de filosofias e ideologias diversas como o sofismo, cristianismo e o humanismo e, onde até então, não se encontra uma pedagogia com elementos que formam o essencial e não se percebe até então uma dimensão sistemática encontramos na Pedagogia contemporânea.
Esse fenômeno novo de sistematização molda uma nova evolução das ideias e práticas pedagógicas posicionada no cerne de uma reflexão inédita, segundo o texto, uma reflexão consciente e ordenada sobre a maneira de fazer e de organizar uma classe e que deriva entre outros aspectos, do surgimento de um novo modo de ver de um cuidado moral em relação à infância, do aumento do número de alunos, alunos do povo que passam a ter acesso às escolas, algo que era de exclusividade das classes mais abastadas. Agora um ensino simultâneo se faz necessário, gestão do tempo e do espaço, organização das crianças e dos saberes dentre outros.
Revendo principais marcos na Educação, o texto se remete aos capítulos iniciais com os conceitos primordiais de que toda a sociedade educa, no sentido de que transmite aos mais jovens suas tradições, costumes e maneiras de fazer, mesmo que de maneira mais ou menos consciente ou de maneira informal, mesmo numa natural convivência com outras sociedades e costumes. Todas as sociedades educam mais nem todas ensinam, o ensino começa com os gregos que questionam a natureza, a sociedade, a vida. Claro que nem só os gregos pensam, porém, os sofistas é que dão início a um processo didático se tornando os primeiros professores como ofício, diferenciado dos demais existentes na época que ensinavam os ofícios como o artesão, os ferreiros dentre outros, ensinando com a repetição. Os sofistas ajudam o outro a aprender a pensar, uma atividade que não se dirige a uma ocupação somente, qualquer atividade humana necessita.
Na antiguidade, a educação em que o homem pudesse desenvolver o máximo de suas potencialidades, alcançasse sua plenitude ficou conhecida como Paideia. Essa educação antiga existente nos primórdios acontecia numa perspectiva de preceptorado, mesmo coletivo com cinco ou nove alunos (o professor como exemplo de homem e detentor de conhecimentos que seriam passados para o seu aluno) e não foi encontrado entre eles um tratado sistemático do ensino para transmitir os conhecimentos e o mais próximo de um tratado de pedagogia pode se encontrar A república de Platão (1966), mais este se trata de uma educação geral de como ver a sociedade, seus conceitos e sua organização.
A Escola surge na Idade Média, como define Durkheim (1969): “um ambiente moral e organizado, reúne sob o mesmo teto vários mestres que trabalham numa mesma perspectiva de converter os alunos ao cristianismo”. Os grandes pedagogos desse período não se limitavam a ensinar o saber produzido por outros, ensinavam os saberes que criavam, mesmo assim, não se encontram tratados de pedagogia na Idade Média. Textos de Santo Tomás de Aquino (1983) ou de Santo Agostinho (1988), que poderiam se equiparar a isso, são escritos no singular, abordando questões da educação numa perspectiva do preceptor para o seu aluno ou do mestre para o seu discípulo.
O regime da pedagogia medieval se caracteriza com a leitura e se baseiam em ordem moral mais do que institucional, em exortações mais do que regulamentações. No ponto de vista administrativo do ensino, cobrem apenas algumas facetas dos procedimentos pedagógicos como ler, copiar, decorar e comentar os autores clássicos, não sendo procedimentos uniformes e são baseados em improvisações, ligados sempre às iniciativas de certos membros do clero que assim instituem.
Com o Renascimento, a ideologia escolástica, tradicionalista e de pensamento acrítico passa a sofrer constantes críticas, e é com grandes humanistas do século XVI como Erasmo, Budé, Rabelais, mais tarde Montaigne, que conseguem arruinar a filosofia escolástica, mesmo sem exercer influência direta sobre essas instituições de ensino, também não apresentam discursos de docentes encarregados em administrar grupos de alunos em uma classe só tratam sobre reflexões gerais sobre a educação.
Em suma, apesar das várias aquisições no campo da educação, até então, desde os gregos, perpassando a Idade Média e o Renascimento, ainda não houve Pedagogia no sentido estrito da palavra, somente no século XVII aparecem um discurso e uma prática formalizados que podem ser qualificados de Pedagogia, saberes próprios ao docente, um conjunto de regras, de conselhos metódicos que não devem ser confundidos com os conteúdos a ensinar, direcionados ao mestre, para que o aluno aprenda um acervo maior de conhecimentos, mais depressa e em melhores condições, conceito esse encontrado em Didática Magna (Comênius, 1652).
O texto mostra duas pinturas que trazem o ensino nas classes na época, “o mestre-escolas”, de Van Ostade, que retrata um velho mestre com a palmatória na mão, interrogando um aluno por vez, enquanto vários outros de idades variadas brincam ou brigam em um local sujo e desorganizado. O outro quadro mostra os irmãos das Escolas Cristãs, mostra parte de uma classe onde estimadamente 70 crianças da mesma idade e mesmo sexo, uniformizadas, sentadas cada uma com um livro aparentemente concentradas em suas tarefas, numa sala adornada com um mapa-mundi e imagens sacras, a frente mestres, dentre eles João Batista de La Salle (França - Reims, 30 de abril de 1651) que teve uma existência como um ato de fé na educação, apostou que por meio da educação era possível evangelizar. Dedicou toda sua vida à educação humana e cristã de qualidade. Foi descendente de família nobre, razão de ter tido oportunidade de estudar na Universidade de Sorbone, de Paris. Ordenado sacerdote e doutorou-se em Teologia. Paulatinamente após a ordenação sacerdotal dedicou-se à direção de escolas e à formação de professores. La Salle deixou-nos um legado pedagógico que continua válido para os nossos tempos.
Como um dos principais fatores que influenciaram no contexto para o aparecimento da pedagogia, destacam-se a Reforma Protestante (1517), estruturada pela tipografia, o protestantismo foi um movimento determinante na criação das escolas e na escolarização das massas. Outro fator foi a Contrarreforma Católica, preocupados em vencer os protestantes os católicos se veem impelidos a utilizar a leitura como meio de evangelização assim como os protestantes, evidenciou-se com isso a formação da comunidade dos jesuítas. O surgimento de um novo sentimento em relação à infância no século XVII, tornando-se uma preocupação moral para o adulto, a criança é vista como um período negativo da vida e se faz necessário à correção de seus vícios, sua leviandade e sua desordem por parte dos religiosos dando ênfase à importância moral atribuída a educação da infância no século XVII, que contribui para a educação das crianças e a criação de escolas. O problema urbano com uma juventude turbulenta também se destaca e se torna uma das principais funções social da escola nessa época, divergindo da posição da escola no Renascimento, onde a escola era principalmente reservada para a elite e a educação do povo não era valorizada.
O efeito desses quatro fatores: a Reforma Protestante, a Contrarreforma Católica, o novo sentimento em relação à infância e o problema urbano com a juventude, em resumo, combinados, se traduz em um aumento notável do número de escolas juntamente com o grande aumento no acesso dos filhos do povo a estas escolas, fenômeno este que não se limita à França, mas passa a englobar toda a Europa.
Apesar de todas as evoluções, teses e preocupações com a infância ainda não se tem uma teoria, a primeira verdadeira grande Teoria da Infância será elaborada por Rousseau, no século XVIII, destacando-se a obra Emílio (1762).
“A Barca da nossa didática dirigirá a sua proa e a sua popa à procura e à descoberta do método, que permitirá aos docentes ensinar menos e aos estudantes aprender mais; às escolas ter menos barulho, menos problemas, menos trabalho inútil e mais lazeres, mais prazeres e sólido proveito” (COMENIUS, 1952: 31).
Para resolver os problemas de ensino para classes e organização do aprendizado se faz necessário o estabelecimento de um método e de procedimentos detalhados e precisos para dar aula, implicam a consideração da organização do tempo, do espaço, dos conteúdos, da gestão disciplinar, em suma, um método que rege toda a vida escolar desde os micro acontecimentos aos aspectos mais gerais, um discurso de uma prática e de ordem, a Pedagogia.
Démia (Filho de um farmacêutico, então intendente e secretário do marquês de Thiange, tenente-general de Bresse), Charles Démia era órfão de pai e sem mãe desde 1645, é então criado por uma de suas tias. Tendo começado seus estudos no Colégio de Bourg-en-Bresse, continuou no Colégio dos Jesuítas da Trindade, em Lyon . Ele recebeu as ordens menores em 31 de março de 1654 , depois continuou seus estudos até o doutorado em direito civil e eclesiástico. Ele entra em uma congregação mariana e depois entra na Sociedade do Santíssimo Sacramento , onde será muito ativo.) , se inspirou abundantemente na obra de Jacques de Batencour (1669), criou o primeiro organismo francês de formação de mestres, em 1678.
Os irmãos das Escolas Cristãs, comunidade exclusivamente consagrada ao ensino, estabeleceram também a formação rigorosa de seus noviços. Os jesuítas, por sua vez, se tornaram célebres pela excelente formação dada aos membros de sua comunidade que se destinavam ao ensino e o caráter mais evidente dos colégios do século XVII, e uma das causas do sucesso obtido pelos jesuítas, foi o esforço para fazer com que uma juventude turbulenta vivesse de maneira metódica e, a pedagogia é essencialmente método, isto é, ordem e controle minuciosos de todos os elementos da classe, apresentando características como o domínio do grupo e o ensino simultâneo, ter uma só visão, ampla, sobre o grupo de alunos, agrupados pelas suas capacidades, seu nível. Possivelmente os quadros de leituras nas paredes estão relacionados com o desenvolvimento desse método simultâneo de ensino, exemplares de um mesmo livro para todos e a gestão do tempo de modo a evitar a ociosidade, “mãe de todos os vícios”.
Segundo Durkheim (1969), o que explica ao menos em parte, o enorme sucesso da pedagogia dos jesuítas, para evitar que os alunos ficassem inativos, inventaram os deveres escritos como a gestão do espaço, um lugar fechado para o mundo exterior evitando distração e cada aluno com o seu lugar fixo, divididos por grupos seletos nas laterais e subdivisões por ordem de capacidades, segundo a riqueza (por motivos higiênicos) ou ainda lugares especiais para os novatos, para os punidos como o banco da infâmia (banco dos ignorantes) atrás da porta ou em lugares mais sórdidos da escola.
Os procedimentos adotados pelo mestre, vai desde dirigir a criança ditando-lhe sua postura, que é vista como um sinal do interior dessa criança, como a posição do dedo em relação a palavra a ser lida, como segura a pena e o posicionamento do corpo e do papel para a escrita. Também vai ditar os modos de deslocamentos no interior e exterior da classe, as ordenações das filas e as ordens de saídas, seu companheiro indicado pelo mestre e oficiais determinados para se ocuparem da conduta dos alunos nas ruas, os deciários. Existe também a preocupação de nunca deixar o aluno sozinho, este será sempre vigiado mesmo simbolicamente quando estiver sozinho. A “gelosia”, uma pequena janela permitia ver os alunos no exterior sem ser visto. A cátedra elevada, a tribuna, que permite ver todos os alunos com um só olhar e os alcaguetes oficiais, que de certa forma substituem o mestre na sua ausência, a vigilância simbólica permanente, através de imagens sacras. Dizem que a imagem do inferno serve para intimidar os alunos quanto as suas más ações, as confissões que permite se inspecionar não só o exterior, mas também a alma.
A organização dos saberes a transmitir é objeto de especificação e formalização há vários séculos. Para as escolinhas foram delimitadas três ordens de saberes: a formação cristã, o domínio dos rudimentos (ler, escrever, contar) e a civilidade (aperfeiçoamento dos costumes).
Os mestre-escolas foram instrumentos fundamentais na Reforma e Contrarreforma e os tratados de Pedagogia foram na maioria escrito por religiosos.
O século XVII parece bem menos brilhante para a Pedagogia pelo fato de ser mais evidenciado o Renascimento com Ralais, Erasmo, Montaigne e ao Século das luzes de Rousseau, Diderot e Voltaire dentre outros. Entretanto, é, realmente neste século que se encontra o maior número de indicações precisas para os docentes a respeito da organização do ensino na classe, que se elaboram os primeiros enunciados de um saber pedagógico, saber que se situa em um nível diferente das doutrinas, das concepções teóricas, tal como encontradas nas obras de Erasmo e Rabelais.
Os pedagogos do século XVII procuraram antes, organizar a prática escolar. Assim, os protestantes, sob o estímulo de Ratichius (RIOUX, 1963), produzem uma Introdução geral à didática ou arte de ensinar. Mais tarde, Comenius, (1952) escreve A Grande Didática – tratado universal de ensinar tudo a todos; uma das primeiras senão a primeira tentativa de sistematização da pedagogia e da didática segundo Comenius.
Os católicos também se manifestam, Jacques de Batencour (1669), padre e professor de carreira, redige A escola paroquial ou a maneira de ensinar bem nas escolinhas; João Batista de La Salle (1951) publica a Conduta das escolas cristãs; e os jesuítas marcam a época com a sua Ratio Studiorum (programa e regulamento dos estudos da Companhia de Jesus), frutos do empenho de pessoas na prática do ensino durante vários anos, são discursos pedagógicos construídos no terreno de classe, explicam seu saber na ação e juntos inauguram um método para dar aula que não se limitam a críticas teóricas como fizeram os humanistas do Renascimento.
Nessa perspectiva, nada se parece mais com um colégio dos jesuítas que outro colégio dos jesuítas ou uma escola dos Irmãos das Escolas Cristãs do que outra escola dos Irmãos das Escolas Cristãs, assistindo-se assim ao nascimento da pedagogia, nestes moldes, de uma tradição pedagógica onde, alguns mestre-escola elaboram toda a espécie de estratégias para dar aula que, em seguida, eles formalizaram e agruparam em tratados e, essa maneira de fazer a escola será exportada para a América e para o mundo inteiro.
Concluindo que o texto expõe a hipótese de que a pedagogia surgiu no século XVII, claro por se perceber uma grande articulação em seus moldes, que trazem características e novas preocupações em delinear os viés do ensino na medida em que se instituem novos contextos sociais.